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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Vitor Chiarella – ao mestre e amigo, com carinho (5)


Vitor Chiarella e Tchê
Admiradores mútuos
foto: Kart Zoom

A minha hora.

Às quatro da tarde começou mais uma janela de treinos, dessa vez com a presença de mais três pilôtos, um deles o pai de um garôto que havia feito aula pela primeira vez.

Fui instruído a seguir um desses três, um amigo de Vitor que sempre comparece nesses dias. Seria a minha referencia na pista.

O que eu queria era baixar mais o tempo. Falamos novamente sobre a suavidade e a curva na saída do bacião. Ali é um lugar onde você pode optar entre o uso do freio, mergulhando um pouco mais na aproximação, ou apenas aliviar e fazer a curva o mais “redondo” possível. É um lugar onde eu escapei muitas vêzes.

Dessa vez fui sem óculos pois eu já sei que assim a minha noção de profundidade em velocidade é um pouco melhor. Fui informado pelo meu instrutor que receberia um sinal de positivo quando o tempo baixasse.

Entrei na pista com caminho livre à frente, pois os outros já estavam na pista do outro lado. Pensei que seria ridículo, e risível, passar pelo box e não ver nenhum sinal.

Outra vez fui procurando fazer tudo que me foi solicitado. E também uma coisa que observei no início com Vitor à minha frente, pela manhã – ele inclinava a cabêça em algumas curvas.

Nunca fiz isso e, embora um tanto esquisito, foi fácil se acostumar e muito útil. Acho agora que faltou fazer a mesma coisa na hum.

Enquanto passava na reta, à bordo do mesmo kart que pilotei no início, ficava esperando um sinal de positivo, que nunca viria na primeira volta completa. Na terceira volta as duas mãos do mestre sinalizaram o que eu esperava. Na volta seguinte novamente.

Foi o que bastou para que eu mandasse a bota e observasse bem o que estava fazendo, que me concentrasse na minha pilotagem. Uma coisa muito importante na pilotagem é você sentir as reações nos pneus e não brigar com o kart quando êle escorrega um pouco. Você precisa controlar a máquina com suavidade, ou ela vai controlar você.

Sem ser solicitado voltei ao box depois de umas dez voltas e então ouvi o que estabelecia que o meu propósito havia sido alcançado – baixei mais 0.3s.

Não tenho dúvidas em afirmar que o instrutor está justificado plenamente. Objetivo alcançado.
Retorno à pista com o outro kart que havia pilotado na manhã, disposto a “espremer” um pouco mais.
Uma coisa começou a me incomodar nessa hora. O sol estava baixo e na entrada do mergulho, com o sol na cara, eu não via a pista. Como isso se decora e dura apenas uma curva, não havia problema embora pudesse comprometer um pouco o ritmo. Mas outra coisa tirou a minha chance de baixar mais um pouco o tempo de volta – eu mesmo.

Logo no início vi dois caras no final da reta quando eu estava ingressando nela. Duas voltas depois vi que eles estavam um pouco mais perto.

O botão “competição” entrou automáticamente e eu fui atrás. Tanto fiz que encostei nêles. Mas ultrapassar caras que andam bem não é simples assim. Vi que daria trabalho e comecei a seguir os dois de perto.

Como estavam se divertindo entre êles na pista, em determinado momento na entrada do miolo fizeram a curva juntos e eu entrei bem fechado. Começamos a subida lado a lado, eu por fora no cimento, e entrei na reta oposta entre êles. O da frente abriu e começou a me seguir.

Na reta fiz um sinal no capacête para que êle me empurrasse, mas não sei se êle não entendeu ou não quis. Eu não estava mais fazendo a minha pilotagem, mas disputando com êles. E estava muito divertido.

Depois de três voltas assim, e sem o empurrãozinho que eu pedi, e com o sol me cegando no mergulho, achei que era hora de parar.

E no box constatei que o meu tempo subiu um pouco. Foi ótimo ter uma chance para uma disputa, mas o prêço foi perder um pouco da concentração na minha tocada.

Não tenho dúvida de que conseguiria andar mais rápido mas já estava um pouco cansado e a janela de treinos estava no final. Resolvi encerrar ali, feliz com o resultado do dia.

Nas minhas condições (três anos sem pilotar e tendo sido a minha própria referência até então), nunca conseguiria 0.8s no mesmo dia em pouco mais de uma hora de treino total. Eu baixei o tempo mas contabilizo dessa vez o ganho à pontual, certeira, orientação de Vitor Chiarella.

Encerramos tudo e rumamos para a Kart Zoom. Na mesa de Vitor constatei o último esquecimento do dia – as pilhas do gravador estavam descarregadas.

A essa altura o cansaço pediu para marcar outro dia para colhermos o que baste para falar, dessa vez, do meu amigo, mestre, Vitor Chiarella.

Por enquanto resta o que não pode deixar passar:

Valeu Vitão
Muito Obrigado

Eu e o meu mestre de pilotagem, Vitor Chiarella, após uma sessão de treinos inesquecível

Vitor Chiarella – ao mestre e amigo, com carinho (4)


Vitor Chiarella e Tchê
Admiradores mútuos
foto: Kart Zoom

A hora dos pequenos.

Após o almôço havia uma sessão de instrução com crianças com menos de dez anos. Essa aula finalizaria às quatro, quando eu voltaria para mais uma fase de treino.

Na aula com os garôtos estava presente pista o filho de Vitor – Vitor também. Êle segue o mesmo modo de instrução do pai, que agora observa tudo do box ao lado dos pais dos alunos.

A cabeça de uma criança é um mundinho muito distinto de um adulto. Ela compreende tudo que você diz, mas raciocina a pilotagem de um modo diferente. É uma outra dimensão. É preciso paciência e Vitor pai e Vitor filho a possuem suficientemente. É preciso falar tudo com calma, observar tudo, perguntar e orientar.

É curioso observar a ansiedade do pai vendo o filho na pista seguindo o instrutor à sua frente. O pai cronometra tôdas as voltas esperando o filho atingir o seu “record”. O instrutor espera que êle ande bem. Record's são consequência do tempo (kilometragem).

Fora isso uma criança se cansa mais rápidamente numa tarde quente, especialmente quando é um principiante que ainda não anda sózinho. Tudo precisa ser observado e interpretado corretamente. Não se pode exigir de um garôto nessa idade, mais do que êle pode fazer. É preciso dar tempo ao tempo, o que pode ser enfadonho no início.

Mas é certo que em algum momento êsse menino vai andar sózinho e aí isso pode soar como um prêmio para êle. O futuro de uma situação dessas não se pode prever. Nada impede que o filho se apaixone pela atividade e diga ao pai o que é muito comum:

- Pai, quero andar de kart!

É assim que começa. É assim que êle mesmo vai mostrar que está tomando consciência do que está aprendendo. Cada ganho obtido, em fases sucessivas, vai inevitávelmente gerar estímulo. É uma questão de instrução, tempo e paciência. Com isso a garotada pode contar, sob os cuidados de Vitor Chiarella e seu filho.

Vitor Chiarella – ao mestre e amigo, com carinho (3)


Vitor Chiarella e Tchê
Admiradores mútuos
foto: Kart Zoom

Você manda!

Concluí que São Pedro é mais atencioso que eu, me ouve, e provávelmente gosta de kartismo também. No dia combinado o céu de brigadeiro deixou todo o espaço disponível para o sol manter a pista sêca e quente.

Vitor pegou dois karts e os manteve aquecendo o motor enquanto limpava os bancos. Fui objetivo com ele na nossa tarefa:

- Você manda. Diz o que quer e eu vou fazer.

Não imaginei que a única instrução de pilotagem que tive até esse dia, começasse com o mestre à minha frente na pista.

- Me siga. Vamos começar devagar e vou fazer um sinal para você passar depois de algumas voltas.

Ok professor. Vamos lá.

Nas duas vêzes em que parei de pilotar, no retorno o resultado era característico para mim. Recomeçava com um tempo ruim e ao final de um treino estava igual ou até pior. É óbvio que as minhas referencias não eram confiáveis nessa condição.

Ao andar cinco voltas atrás do instrutor, este estabeleceu a referência básica – o traçado que ele quer que seja seguido. Depois de tanto tempo sem pilotar, na segunda volta me questionei se seria capaz de baixar o tempo num único dia, a partir da hora em que começasse a aumentar o ritmo.

Pois quando êle fez sinal para que eu seguisse à sua frente, já entendi que assim faria apenas se êle deixasse. Duvidei de mim mesmo, mas ainda estava aquecendo. Mesmo a sensação sendo um pouco estranha, o prazer da pilotagem está acima de qualquer coisa. Com a pista livre à frente, duas voltas depois vi que estava sózinho na pista e o meu instrutor no box. Ao final de dez voltas recebi sinal para entrar.

Aí as coisas começaram a mudar.

Nem tôdo mundo está disposto a acreditar que um tiozinho que completou 60 anos três semanas antes, ainda tem fôlego para pilotar. Tem fôlego e sobra vontade, mas falta o que viria na sequência.

Acelerar não basta. Traçado é fundamental, é óbvio, Manter um bom traçado em alta velocidade é a atitude de pilotagem a ser compreendida e posta em prática. Fazer isso de forma constante é outro ítem de dificuldade a mais.

Na mureta do box discutimos a aproximação na hum e a entrada no miolo numa curva bem fechada. Na hum era preciso frear mais cêdo e mergulhar menos. Acelerar somente no início da tangência, fechando o máximo que pudesse. Caso contrário a curva ficaria longa demais.

A minha proposta era fazer exatamente o que fôra instruído e ver o resultado. Mais cinco voltas e sou chamado ao box, dessa vez com um tempo 0.3s mais baixo.

Ainda discutimos mais a frenagem e a atitude no volante. Era preciso ser mais suave no início. Trocamos de kart na esperança de ter um freio melhor.

Como já estava aquecido saí acelerando e observando atentamente o grip dos pneus. Ao final da primeira volta fiz um sinal de positivo e fui procurar repetir tudo que havia sido solicitado. Bingo! Baixei mais 0.2s. O mestre já tinha entrado em ação e o cronômetro era o indicador.

Retornando novamente ao box, pedi à êle a fórmula para mais alguns décimos mais rápido, ao que êle respondeu com um sorriso e o comentário de que eu estava traçando bem e virando melhor. O restante ficaria para depois do almôço.

Vitor Chiarella – ao mestre e amigo, com carinho (2)


Vitor Chiarella e Tchê
Admiradores mútuos
foto: Kart Zoom

A pista é o lugar.

Se você quer sentir a adrenalina da velocidade, o lugar é a pista. Na rua o máximo que você sente é pressa e ansiedade, principalmente na capital do caos, São Paulo.

Já se passaram alguns anos desde que sugeri ao Vitor Chiarella fazermos um treino com o objetivo de apurar no cronômetro o quanto o mestre é importante para o discípulo.

Finalmente vou acelerar de novo após três anos parado. Tão logo chegue ao kartódromo.

Certas pessôas parecem ter nascido já um tanto apressadas e em certas horas a atenção faz a diferença. Saindo de casa com toda indumentária a bordo, percebo que havia deixado em casa o talão de cheques.

Como ainda estava perto de casa resolvi voltar e a minha impaciência deu os seus sinais no primeiro farol fechado. Você xinga o transito, a CET, a prefeitura, o capitalismo e o socialismo também. Xinga também o cara que está à sua frente, que resolveu passear na avenida em plena segunda-feira, parecendo admirar o “grid” imenso à nossa frente.

Definitivamente isso é uma irritação para quem adora velocidade. Mas é você quem vai para a pista, e não êle.

Saindo de casa novamente, e dessa vez pensando que não esqueci nada, perdoei à tôdos imediatamente e rumei para a minha praça de esportes favorita: a pista.

Após um breve trajeto regado aos solavancos habituais no nosso surrado mega-município, me encontrava novamente no kartódromo, aguardando Vitor Chiarella para me ensinar a fazer melhor o que mais gostamos na vida – pilotar.

Enfim, estava novamente no único jardim que conheço com cheiro de gasolina. Nada contra as rosas, que fique bem claro. Estava pronto para começar, todo equipado, não estava xingando mais nada, não havia mais buracos, e havia buscado o que esquecera, exceto....as pilhas do gravador.
A reta do Kartodromo Granja Viana
Um dia de sol, perfeito para pilotar

Vitor Chiarella – ao mestre e amigo, com carinho (1)


Vitor Chiarella e Tchê
Admiradores mútuos
foto: Kart Zoom


E se eu tivesse um instrutor?

Tudo pode ser aprendido na vida, razão pela qual exitem escolas. Tudo que você aprendeu com o seu mestre será referência para potencializar o aprendizado na prática.

Isso se aplica também ao kartismo. Tanto que lá no início dos anos 1960 surgiu em São Paulo a Escola Paulista de Kart, onde o instrutor mais simbólico era o lendário Paulo Manoel Combacau, o Maneco, que Ayrton Senna chamava de professor.

Eu jamais tive uma instrução de pilotagem e segui um padrão comum nesse caso, que é ter como referencia o adversário à frente.

Como seria se alguém com muita bagagem no kartismo, tanto na pista quanto no box, me orientasse na atitude de pilotagem?

Foi o que finalmente fui conferir sob a orientação do meu amigo Vitor Chiarella no Kartódromo Internacional Granja Viana em 27/7, uma ensolarada segunda-feira.

É o que passo a relatar nos próximos posts.