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sábado, 10 de setembro de 2011

Monza - duas épocas, duas emoções distintas.





Há duas pistas no mundo que podem ser consideradas como capitais do automobilismo, Indianapolis e Monza. Vencer uma prova em Monza tem o mesmo significado que tem para os americanos uma vitória em Indianápolis. Não é para menos, são duas pistas tradicionalíssimas e de velocidade muito alta. No caso da pista americana, velocidade plena o tempo tôdo, e em Monza uma mescla desafiadora de trechos de alta velocidade e freadas muito fortes.

Emerson Fittipaldi tem o que eu qualificaria como uma corôa universal do automobilismo por ter sido capaz de vencer nas duas pistas. Fora isso venceu também o campeonato no mesmo ano em que venceu nelas. É literalmente o mesmo que se tornar uma referência única no seu meio, como alguém a ser batido.

Amanhã Vettel, que fez hoje mais uma pole, é claro candidato à vitória na mesma pista onde venceu pela primeira vez com apenas 21 anos. Para vencer em 2011 não precisa mais ganhar tôdas as corridas, o que não significa que não corre para vencer. Faltando 7 provas para a definição do campeonato, a atenção estará voltada para Webber, Hamilton, Alonso e Button, os quatro que vão disputar com unhas e dentes a segunda colocação no campeonato de 2011.

A pista de hoje oferece o mesmo tipo de dificuldade do passado, encontrar um compromisso entre velocidade muito alta e performance em curvas de baixa. É tão singular essa pista que o pole de hoje, Vettel, foi quem registrou a mais baixa velocidade máxima. Já Alonso conseguiu um bom tempo de volta junto com a quarta colocação nas máximas. Uma bela combinação desde que não signifique consumo de pneus.

Mas para os brasileiros ávidos por uma surpresa de um conterrâneo nas pistas européias, não temos nada a esperar. Massa tem a metade dos pontos de Alonso e assim conseguirá no máximo lutar pelo 3o. lugar no campeonato. Isso se a equipe não lhe mandar um pouco mais atrás em algum pit stop. Barrichello faz o que pode com um carro claramente deficiente e mais uma vez é o mais rápido entre os Cosworth. Bruno Senna está pela primeira vez dando os seus passos mais firmes na categoria. E terá amanhã à sua disposição um jogo de pneus zero quilômetro, poupado hoje durante o Q3.

Curiosamente, em 1972 também havia 3 brasileiros no campeonato, Emerson, seu irmão Wilson e José Carlos Pace. Mas o GP de Monza de 1972 foi incomparável. Neste, Emerson por pouco mesmo não largou. O carro titular ficou destruído num acidente com o caminhão da equipe. A solução foi usar o reserva. Ocorre que o reserva era o mesmo chassi de 1970, ano em que faleceu o seu companheiro Jochen Rindt num carro igual. Aliás, é bom lembrar que esse deve ter sido o dia mais solitário da vida de Emerson na F1. Tomou café da manhã com Rindt. Horas depois ele, Rindt, estava morto. E depois John Miles retirou-se das pistas. Portanto, Emerson se tornou o primeiro sobrevivente brasileiro em uma equipe de F1. De um momento para o outro, de terceiro pilôto passou para possível desempregado solitário e na sequência pilôto titular. Possívelmente deve ter sido a sensação de terem apagado as luzes sem que isso tivesse sido solicitado, bem no comêço da festa.

Mas, voltanto a 1972, Emerson tinha reais chances de ganhar o campeonato mas o carro com o qual fez os pontos para isso estava destruído num acidente. O outro carro de dois anos antes, era o mesmo mas sem as evoluções de engenharia que diferenciavam um do outro. Não quer dizer que fôsse um carro necessáriamente inferior mas não era o titular. Para piorar as coisas o tanque de gasolina vazou e têve que ser substituído pouco antes da largada. Naqueles anos não se faziam pit stops. A corrida começava e daí em diante era uma longa espera para o final.

Ao final da corrida tendo levado o carro na ponta dos dedos para que não quebrasse, venceu a prova consciente de que também era o campeão do mundo daquele ano, o primeiro brasileiro a vencer um campeonato de F1. E ainda por cima conquistando esse título num autódromo lendário, num autêntico templo do automobilismo mundial.

Isso causou um grande impacto na mídia internacional, e no Brasil Emerson passou de conhecido pé pesado para o mais ilustre pilôto de automobilismo. Foi noticiado, festejado, admiarado por tôdos. Tornou-se também a pessôa que polarizou a atenção do brasileiro no esporte. Nosso maior esportista na época, Pelé, estava indo para a aposentadoria e precisávamos de um substituto espetacular. Emerson era essa promessa pois já era vencedor, tornou-se campeão, e era natural pensarmos que poderíamos esperar mais vitórias em corridas e campeonatos.

Monza é sem dúvida um divisor de águas nas nossas lembranças do automobilismo. Também Nelson, Ayrton e Rubens venceram em Monza. Vencer nessa pista é uma evidente demonstração de capacidade e seja lá quem for o vencedor merece os louros da vitória. Mas por mais emocionante que venha a ser a corrida de amanhã, nada se compara ao grande impacto que nos causou a mesma de 39 anos antes. E mais, observem as corridas em Monza naquela época e verão que os carros andavam mais próximos do que o farão amanhã. Vencer em Monza não era para qualquer um, era genuíno desafio mesmo para um pilôto experimentado.

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