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terça-feira, 5 de abril de 2011

Bandeira Prêta no nosso automobilismo



Quando me inscrevo em uma prova de atletismo como São Silvestre ou Meia Maratona de São Paulo, a última que participei, estou assumindo o risco de morrer no meio do percurso. Eu devo ter consciência das minhas condições e capacidades, e saber reconhecer o meu estado durante o trajeto e assim determinar qual atitude tomar quando estiver me sentindo em ótimas condições ou não. Cabe enfim a mim individualmente decidir até mesmo se vou desistir.

No caso do automobilismo é mais complicado. O pilôto precisa confiar em muitas coisas que não estão no seu controle ou no seu campo visual.

Há o carro, a pista, a sinalização, o clima, a equipe, a organização da prova, a entidade esportiva que legisla e define regras, os imprevistos, os médicos, os outros, os muros, e poderíamos também acrescentar os cachorros.

Próximo ou acima de 200 km/h o tempo de reação é pequeno e diminui conforme diminui tambem o espaço físico no entorno. Por exemplo, andar a 150 km/h numa autoban te dá a mesma sensação de estar na avenida a 50, de tão larga que são essas autoestradas na Alemanha.

Por essa razão os karts sao tão apaixonantes na pilotagem. Voce está andando numa pista estreita e muito próximo do chão e isso ao mesmo tempo que potencializa a sensação de velocidade dificulta as reações e te desafia a ser mais ousado e também mais técnico na atitude pilotagem. E para tornar as coisas mais emocionantes, em pistas inclinadas sempre há um ponto cego onde voce entra sem ter a visão do que está acontecendo no meio da curva que vai iniciar.

Em outras palavras no automobilismo você conta com determinadas condições mantidas como se espera, e conta também com a possibilidade de imprevistos como uma batida na sua frente ou uma rodada sua. No caso da rodada é você que está agindo desde o inicio do evento e no caso de uma colisão com outro carro ou parte da pista, há participação de algo que está fora do seu controle. E controle é o que o pilôto busca contínuamente na pilotagem. Mas isto está restrito ao seu carro e nada mais.

Como o automobilismo é um esporte onde você desafia ao mesmo tempo a si próprio e aos outros, e disputa a sua posição junto com os seus concorrentes, a atitude contínua é buscar performance sem dar chance de surgimento de vantagem ao da frente. E no caso de oportunidade a atitude habitual e correta do ponto de vista esportivo é pressionar, às vezes intensamente, e assim obter a ultrapassagem. Trocando-se em miúdos, não se alivia para o concorrente.

Você sai da disputa se te derem bandeira prêta que é sinalização de pista que está sob o contrôle da fiscalização, que deve conhecer e saber aplicar as regras esportivas. Por exemplo, a bandeira amarela tem o significado de manter a corrida no ponto onde ela é agitada mas proibir a ultrapassagem até que se passe desse local.

Enfim, esse blá blá blá tem a ver com a bandeira amarela que a CBA resolveu adotar no autódromo de Interlagos, específicamente na curva do Café, a tal onde Gustavo Sondermann bateu no domingo e acabou falecendo por conta disso.

Não vejo muita dúvida em relação ao desacêrto da medida. É incompatível com as condições atuais e com o propósito do esporte. Manter a bandeira amarela agitada ali, significa que você não vai aliviar a sua tocada mas não vai ultrapassar. Essa bandeira não quer dizer que você tem que aliviar o pé. Isso se consegue de outras formas.

Eu tenho uma imensa dificuldade de entender porquê uma entidade que tem a prerrogativa de baixar determinações nos eventos que ela autoriza, não optar pelo uso da sua própria fôrça instituída para determinar que se altere a trajetória naquele ponto, mesmo que seja de forma improvisada, até que se tenha uma solução global que cause efeito concreto em tôdos os eventos naquele mesmo sinistro local.

É o caso de se determinar um desvio improvisado, seja com cones, pneus ou qualquer tipo de barreira compatível com essa situação, e dar desclassificação imediata no evento àquele que não respeitar essa condição. Aí se terá tempo para se planejar uma solução mais difícil de ser levada à cabo e mais concreta, como a modificação física do traçado da pista.

Eu entendo que a determinação de bandeira amarela nessas circuntâncias, é nada mais que demonstração do mau emprêgo da força que a própria entidade tem de fazer escolhas que outros não poderiam contestar. Sôa como atitude de amadores. Se eu tivesse que fazer alguma sinalização nesse caso, daria sem pensar duas vêzes, bandeira prêta.

Temos no Brasil um bando de entidades que congregam tôdo tipo de interêsses imagináveis, e estamos já habituados com impunidade e leniência. Ouvimos contínuamente argumentos, justificativas e afinal nos deparamos com paliativos totalmente provisórios e de baixíssimo impacto. O Brasil a grosso modo ainda é um país improvisado. Temos aqui uma das mais modernas pistas de automobilismo do mundo e mesmo assim devemos pedir à FIA que nos indique que modificações fazer. Aí eu pergunto se precisamos mesmo disso tudo. Se temos um problema grave e evidente porque não se adota imediatamente uma medida de impacto, mesmo que seja provisória? Porque aquele que tem essa prerrogativa não a usa? O que significa na prática ser filiado à FIA? Que tipo de vantagem prática isso traz?

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