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quinta-feira, 25 de março de 2010

Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro (20)


fragmentos do livro de Jan Balder e comentários do Amigos Velozes.

O último post dessa série trata de um assunto muito conhecido, mas nem por isso deve ser relegado a plano secundário. A data que marca o final do livro é o dia em que Emerson Fittipaldi ganha o seu primeiro título de Fórmula 1. Do meu ponto de vista considero esse último capítulo muito interessante, se considerarmos que é um relato de uma pessoa que acompanha o campeão desde a sua adolescência. E também é uma oportunidade de relembrar uma passagem de incrível significado na nossa história, coisa que eu vou explorar um pouco mais no final do post.



O caminhão que levava os carros da equipe Lotus sofreu um acidente na estrada. O Lotus preto virou de ponta-cabeça, e Colin Chapmann voltou a ser o centro das atenções na Itália. Relembrando, em 1961, o acidente de Jim Clark (piloto da Lotus) vitimou fatalmente o piloto alemão Wolfgang von Trips. Mais  tarde, em 1970, a morte de Jochen Rindt (também piloto da Lotus) voltou a causar problemas para Chapmann (proprietário da escuderia) com a justiça italiana. Agora, seu carro-transporte sofria um acidente. Chapmann vivia uma maré de azar naquele país.

Mesmo pressionado, Emerson Fittipaldi manteve seu habitual equilíbrio. O Lotus 72 foi refeito e ficou com o quinto tempo no grid de largada, posição que lhe garantiria o título mundial. Meia hora antes da largada, o tanque de gasolina vazou, e um remendo paliativo fez Emerson Fittipaldi pensar que iria mais cedo para casa.

Eram muitos os imprevistos de uma só vez, e tudo acontecia em Monza, onde Emerson estreou em 1970, quando o modelo 72 bateu forte nos treinos, matando Jochen Rindt. Para completar, a equipe Lotus declarava que o chassi era o mesmo da série de 1970 - o número 5 da sua produção.

Na largada, Jackie Stewart, rival direto de Emerson, ficou sem embreagem e abandonou. Com isso, o quinto lugar lhe dava o título. Na volta 17, o líder Clay Regazzoni, de aviso prévio na equipe Ferrari, ao colocar uma volta sobre J. Carlos Pace, bateu no carro do brasileiro e abandonou. Faltando nove voltas, o outro Ferrari líder, com Jacky Ickx, sofreu pane elétrica.

A estrela nascente Emerson Fittipaldi ganhou a corrida e o título máximo do automobilismo!

O Brasil foi campeão mundial de Fórumla 1. A festa era total, com bandeiras do Brasil se misturando com as vermelhas da Ferrari.

A esposa de Emerson, Maria Helena, emocionada, subiu ao pódio e o pai, o ´Barão´ Wilson, ficou rouco em sua transmissão pela Jovem Pan.

Na sequência, Jan cita seu amigo Alfred Maslowski que estava presente na platéia assistindo o seu também amigo Emerson recebendo a bandeira da vitória. Na semana seguinte foi à casa dêle em Lausanne para cumprimentá-lo. Acabou dando uma ajuda a uma jornalista Suíça para escrever um livro sobre o novo campeão, uma vez que Alfred conhecia toda a carreira de pilto de Emerson.

Me lembro muito bem de uma situação dessa prova. No seu decorrer começamos a ser tomados pela expectativa concreta de vermos um brasileiro conquistando um título inédito. De uma certa forma foi semelhante ao último jogo do Brasil na Copa do México, onde a Itália abriu a contagem mas o Brasil foi crescendo de forma segura e ao final do jogo contávamos os minutos para o apito final.

Aqui nesse caso, nas últimas voltas passamos a esperar com considerável ansiedade a bandeira quadriculada. Não posso imaginar para quem durou mais a útlima volta, se para nós que estávamos de olhos arregalados na tv ou se para Emerson que sabia que aquela era a volta triunfal da sua vida. Acredito que para êle aquela volta final deve ter durado um século. Mesmo tendo consciência de que o campeonato não acabava ali, sabia que a disputa pelo título estava a algumas curvas da definição.

Talvez nessa hora dois gigantes tenham surgido na sua mente. Um que mantém o poder de concentração do limite extremo, e um outro que não pára de lembrar que dentro de alguns segundos voce se tornará a pessôa mais importante desse esporte e ídolo do seu povo. Esses dois, um ao lado do outro, possivelmente tenham uma grande influência na noção de tempo, de forma que te faça ver cada fração da cena gravada na sua cabeça por muitos anos, ou quem sabe pelo resto da vida.

Um ponto de incrível significado nesse capítulo final do livro é essa frase: O Brasil foi campeão mundial de Fórmula 1.

Pelo que conheço do autor do livro, a frase saiu espontânena. A brilhante conquista de Emerson era também nossa. Nós nos sentíamos mais importantes e essa referência era um brasileiro que representava um padrão de excelência na sua profissão. Isso é um sentimento nítidamente nosso, da nossa brasilidade. As conquistas de um brasileiro eram reverenciadas e valorizadas tal como um emblema que nos distingue de forma peculiar.

Mas o mais incrível dessa frase é que ela foi escrita por um holandes, e quem chegou ao final da leitura talvez não tenha se dado conta desse detalhe.

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