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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro (11)

 fragmentos do livro de Jan Balder e comentários do Amigos Velozes.

Preste atenção nos parágrafos que seguem do livro de Jan. Muita gente tem a leitura de que o automobilismo é uma vida de emoções, glórias e dinheiro. Essas emoções podem em certos casos ser negativas e as glórias podem ser ofuscadas por outras derrotas. Na vida as batalhas sempre teem duas instancias: a que envolve o seu saber e suas capacidades, e a que envolve as circunstancias.



Com a evolução da indústria nacional, o automobilismo no Brasil se popularizou. Em São José dos Pinhais, Grande Curitiba, foi inaugurado um novo autódromo, apenas com um anel externo de duas curvas.

Em Porto Alegre, o sonhado projeto de Tarumã saiu do papel, e em Fortaleza foi construído um autódromo distante do parque industrial.

Alheio a essa realidade, o Automóvel Clube do Brasil (ACB), cujo comando estava na mão de generais, tinha muita política e pouco fazia pelo esporte. Usava como trunfo o fato de ser filiado à Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e não reconhecia a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), criada em 1961, tendo à frente Wilson Fittipaldi. O ´Barão´ Fittipaldi usava os microfones em seus programas diários de automobilismo na rádio Pan-Americana para acusar os cartolas do Automóvel Clube. Como organizador de corridas, o velho Fittipaldi chegou a receber um mandato de cassação nos 1600 Km de Interlagos, que, por esse motivo, teve a largada retardada em cinco horas, só sendo liberada após a impetração de recurso, obtido com a valiosa ajuda de Raymond von Buggenhout.

O jogo de poder e a troca de farpas de todos os lados eram constantes. “Sobrava” para os pilotos, que não conseguiam obter autorização do Automóvel Clube, reconhecida pela FIA, para correr fora do Brasil. Além disso, sofriam ameaças de punição e suspensão das corridas brasileiras. Passei por essa experiencia no auge da briga.


Jan Balder venceu na categoria 1,0 litro a prova de El Pinar, Uruguay, que foi disputar a convite de Henrique e Karl Iwers em 1968. Mas para isso precisava de carteira internacional de piloto e nessa época Automóvel Clube e CBA estavam no meio de uma guerra política que se deu entre 1961 e 1969. Enfim, precisava superar uma barreira extra-pista. Conseguiu resolver a questão com a ajuda dos últimos apaixonados do automobilismo nacional, os gaúchos. Na prova largou em 17o., ganhou na categoria e cruzou a linha de chegada em segundo na geral. Uma bela atuação, ainda mais considerando-se que se dera na casa dos nossos vizinhos.

Mas infelizmente, pode parecer piada mas o resultado foi valorizado apenas pela equipe e pelos brasileiros que se encontravam no Uruguay, enquanto que aqui no Brasil foi recebido como um ato desobediente. O automobilismo tem tudo de glamouroso até o pódium, mas por trás das cortinas é uma batalha desmotivante, conforme se vê no parágrafo em que Jan relata a recepção ao voltar para o Brasil.

Fui visitar o Automóvel Clube Paulista e imaginei que seria bem recebido pela vitória brasileira no exterior. Puro engano. O sr. Ângelo Juliano só não me agrediu porque havia uma mesa nos separando. Naquele momento senti a verdadeira disputa entre o Automóvel Clube e a Confederação Brasileira, dividindo interesses entre desportistas e cartolas políticos.


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