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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro (3)



 fragmentos do livro de Jan Balder e comentários do Amigos Velozes.


Contextualisar é uma parte importante de um texto, muito especialmente quando este remete a tempos passados que muitas vezes não é a época do leitor. Este que vos fala nasceu em 1955, quando Jan Balder tinha 9 anos de idade. Acabara a guerra, o mundo estava dividido em dois grandes blocos, e aqui no Brasil falava-se sempre em desenvolvimento. O Brasil estava sendo desbravado novamente mas não pela ótica geográfica, e sim pela da estrutura economica. Eram outros tempos, de outras dificuldades e também de muitas novidades. No primeiro capítulo do seu livro, Jan dá uma idéia do que era o nosso mais famoso autódromo, conforme atestam esses quatro trechos extraídos do seu livro. Mais abaixo os meus comentários e um questionamento.




Estávamos em 1956. O Brasil vivia seus Anos Dourados, entrando na rota da industrialização. O rádio era a grande vedete nacional num país de transformações sob o comando de Juscelino Kubitchek. A indústria automobilística nacional dava os primeiros passos, e o País começava a estremecer ao som do rock´n´roll.

Certo domingo, saímos do bairro do Brooklin Paulista e fomos, de onibus, até o largo do Socorro, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo. Dali, seguimos a pé por uma antiga estrada totalmente deserta. Depois de andar por quase uma hora, chegamos ao nosso destino: o autódromo de Interlagos.

As arquibancadas de terra em forma de grandes degraus formavam um esplendido visual sobre o circuito. O ruidoso ronco dos motores e o modelo daqueles carros me assustavam. Automáticamente, os pilotos se transformaram em meus heróis.

O mato tomava conta de todo o terreno e não faltavam cobras, cachorros e cavalos na imensa área meio deserta. Para o público só havia a arquibancada natural de terra, em forma de grandes degraus, que não proporcionava nenhum conforto. As tribunas de honra para as autoridades eram cobertas, construídas em madeira e ficavam em frente aos boxes.



Eu só fui conhecer esse mesmo autódromo quando Jan já era piloto de competições. Me lembro como se fosse agora de um sábado em que o meu pai parou o seu Gordini na avenida e saímos do carro para ver de longe outros carros barulhentos andando como loucos um atrás do outro. Na subida do Café um Gordini reduziu para terceira marcha e me recordo claramente do comentário do meu pai: “Opa, esse aí rasgou uma terceira!”. Eu vi uma pista asfaltada, longa com o seu desenho cortando o mato baixo do terreno.


Conforme o relato do livro, o conforto era inexistente, o acesso não muito fácil e o mato um habitat natural de espécimes que na verdade nada tinham a ver com uma competição de automóveis. Tal era o significado daquele ambiente inusitado e na verdade único na nossa cidade, que o menino Jan passou a enxergar os pilotos como seus heróis. Uma idéia de fato apaixonante. Ali era um lugar onde se podia fazer o que normalmente não era o mais recomendado e nem mesmo permitido. Era uma arena muito especial.


Mas isso tudo me leva a um questionamento.
Hoje esse mesmo autódromo tem um belo asfaltamento, um mato sem cavalos ou cachorros, arquibancadas de verdade e cobertas, nas quais voce não precisa mais sentar para esperar que os carros completem uma volta de mais de 7 km, área de estacionamento ampla, acesso fácil com alternativas, apesar de serem poucas, ambulancia e centro médico, uma torre de cronometragem ampla que em nada lembra o passado, um imenso terraço sobre o box, que por sua vez é um que merece essa designação, e é o lugar onde corre também a mais importante categoria do mundo.


Então porque êle está vazio?
É porque perdeu a graça? É porque somos masoquistas e gostamos de sentar na terra e trafegar em picadas entre cobras?
É porque é seguro demais para os pilotos?
É porque passa na televisão?


Tenho a minha resposta mas vou escreve-la um dia. Por enquanto fica aqui um questionamento apenas. Se voce tem a sua resposta fique à vontade para comentar.

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