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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Tchê - O kartismo está muito profissional! (2)



E o Ayrton quando começou a andar de kart com você. Era uma relação de professor e aluno?

- De professor e aluno. Não tinha ninguém no meio. No primeiro dia que andou na pista niguém sabia quem era. O motor quebrou e o Aloísio Andrade Filhou falou para êle "- Tem um homem bom na Moóca". Naquela época o Ayrton tinha 14 anos. Êle foi lá com o pai e pediu para arrumar o motor para o domingo. Nós não demos muita atenção para êle. Essa vida é curiosa. Era a primeira vez. Perguntou quando ficava pronto e eu disse para buscar na sexta-feira.

- Aí retificamos o motor. Quando dei a conta para êle, era uma conta pequena. O pai não gostou. Achou que era muito barato por um serviço bem feito. Naquela época eu já fazia motor há 15 anos. Eu respondi que se o menino andasse certo poderia até ganhar corrida com aquêle motor. Mas êle não acreditou. Aí foi para a pista e eu queria ver o menino andando.

- Êle era uma vaca brava. O Giaffone, Chico Serra e o Waltinho disseram que êle não tinha futuro. Saía da pista, rodava, era agressivo demais. O kart dominava êle. Êle queria pegar o kart e fazer o que êle queria. E não conseguia. Então eu fui lá e falei "- menino, não é assim que se anda".

- Sabe o que êle respondeu? "-Não é problema seu." Não esqueço isso nunca. Eu disse que não interessa se não é problema meu, mas sim dêle. "- Não é assim que se anda, tem que andar mais redondo." Aí o pai perguntou porque eu estava dando bronca no menino. Eu disse que não estava dando bronca e sim ensinando como se anda.

- Eu torcia pelos meus motores e queria que ganhassem corridas. Aí o Ayrton ficou me olhando. Sabe quando você vê um bicho bravo?
(rindo..) Êle estava assim. Treinou de nôvo, fez mais redondinho e pronto - fêz a pole. Já era outro.

- Quando estava na tomada de tempo eu falei "- E aí menino, melhorou?" Mas na bôa, como se a gente se conhecêsse a vida toda. E êle apenas disse "- É!". E foi assim. E na corrida com êle fazendo a pole, imagine. Andava mais que os outros. Ganhou a corrida. Foi em 1 de julho de 1974.

- Aí, na bandeirada, tinham 8 pilôtos meus, Sala, Bergamini, Ayrton, Jorge, tinha um monte de gente. Nós brigávamos contra a fábrica Riomar. Eu pedi para dar a bandeirada e não queriam deixar. Eu insisti e critiquei a rigidez. Aí me deixaram dar a bandeirada mas para tôdos. O Maurício estava em segundo. O ´Pé frio´ tirou uma foto e na semana seguinte apareceu com a foto para mim. Eu fiquei muito contente.

- Quando acabou a corrida o Ayrton veio me cumprimentar "- Muito obrigado sr. Tchê". Aí no outro dia êle foi na oficina e começou uma amizade.

Retornando à questão do profissinalismo, o Maneco tinha uma escola de kart, não é?

- Chamava-se Escola Paulista de Kart - ESPAK. Êle que dava aulas. E olha, era o melhor professor. Era um cara brincalhão, sabia aliviar com a molecada, ensinava os pilôtos. Sempre tinha muita gente. É um cara que fabricou muitos pilôtos. Inclusive outro dia passou aqui o mecânico dêle, o João. Ficou muito tempo com êle, uns 3 anos. O Maneco participava. Naquela época tinha mínimo um mês de aula e depois recebia a carteirinha.

Fora o Ayrton Senna que era um caso à parte, quem entre os outros pilôtos de kart que você deu aula foi o melhor aluno em tôdos os aspectos?

- Carlos Alberto Savoya. Um excelente pilôto, uma pessôa espetacular, que deu um bom retorno mas não continuou no kart. Êle estava interessado em trabalhar, fazer a sua vida. Montou uma empresa. Êsse era um dos meus pupilos. Aguentamos muita cara feia porque nos dedicávamos mais a êles que aos outros. Mas não a pleno para levar para frente. É que êles ficavam apegados e sempre íam perguntar o que podia fazer, como fazer.
 


Eu realmente sou privilegiado, sempre tive uma vida muito bôa. Mas tudo isso que eu consegui foi atravéz de dedicação, perseverança e muito desejo de atingir os meus objetivos. Muito desejo de vitória. Vitória na vida, não vitória como pilôto. À vocês tôdos que assistirem e estão assistindo agora, eu digo que seja quem você for, seja qualquer posição que você tenha na vida, um nível altíssimo ou mais baixo, social, tenha sempre como meta muita força, muita determinação, e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá.

Ayrton Senna da Silva

foto: Amigos Velozes 

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