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terça-feira, 15 de setembro de 2009

F1 hoje - côrte e seus vassalos.

Nelson Piquet, o tri-campeão, é considerado o mais irreverente dos pilotos brasileiros da F1 e é muito admirado por muitas pessoas não apenas pela sua habilidade de pilotar mas também pela língua afiadíssima que é bem conhecida. Também ficaram famosas as suas estratégias de corrida que entre outras coisas incluiu uma prova em que não portava os instrumentos do painel. Fora do cockpit protagonizou cenas hilárias e inesquecíveis como uma foto ao lado de Balestre fazendo sinal de chifres atrás da cabeça do frances. Tambem na Williams houve aquela intriga com Mansell quando Piquet um dia resolveu sumir com os rolos de papel higienico do motorhome pois sabia que Mansell não ia lá muito bem dos intestinos. E este, com um ponto de interrogação latente na cabeça, em certa ocasião precisou perguntar a alguem o significado de ´panaca´, termo que ele ouvia sempre que Piquet o cumprimentava.

Mas isso tudo é de uma Fórmula 1 que acabou e nunca mais volta. É uma época de uma romantica e atraente bagunça organizada. E foi nesse contexto que Nelson Piquet entrou na F1 com uma grande habilidade de pilotar e uma atitude de playboy. O que lhe interessava era competir e usufruir dos louros das conquistas. Talvez esse espírito tenha feito com que êle não desse tanta atenção assim à política da categoria, ao menos aos olhos do público. Mas não quer dizer que esta não existisse.

A F1 de hoje, que muitos da minha geração não se sentem muito atraídos por ela, é um universo à parte, complicado, sofisticado, totalmente programado e regrado. E isso se deve a uma pessoa que está ligada à ela há décadas. Bernnie Ecclestone que passou de dono de garagem de preparação de carros de corrida a dono da categoria mais veloz e tecnológica do planeta. Para isso teve a seu lado muitas coisas, entre elas a política de relacionamento com interessados e a visão inteligente de que a F1 era um produto com potencial muito amplo e não plenamente aproveitado.

A F1 um de hoje tem um dono e é uma empresa e não mais uma comunidade de geniais apaixonados pela velocidade. Alguém manda, decide acima de todos, dá a última palavra e tem poder de julgamento. Essa empresa é um gigante de uma dezena de equipes e vinte pilotos. Um gigante cujo tamanho é expresso em 20 unidades que são afinal a peça mais visível do produto a ser vendido. Cada uma dessas unidades, óbviamente está supervalorizada e muito disputada. Por ser uma comunidade muito restrita, única e com uma administração centralizada, tudo que está abaixo do nível decisório é obrigado a aceitar todas a regras que emanam de cima. Uma situação que faz com que os personagens sejam mostrados como grandes protagonistas mas que na verdade não passam de coadjuvantes a serviço do propósito maior do sistema, sem direito a queixas e com uma soma de deveres e restrições cuja justificativa são os salários que não seriam encontrados em outro lugar e nem a notoriedade que o posto que ocupam lhes confere.

Um cenário do tipo côrte e vassalos onde a política é quem determina todos os rumos e dita a diferença entre certo e errado. Se a F1 foi uma glória e uma festa para Nelson pai pode ter se mostrado apenas como uma grande decepção para o seu filho. E a exposição que esse produto alcançou nos dias atuais é tão ampla que possívelmente o desligamento de Nelson Jr. da categoria se transforme em prematura aposentadoria. Uma pena mesmo para quem nem chegou aos trinta e dedicou a sua vida toda a um único objetivo. É o preço cruel a ser pago pela notoriedade. Nos dias de hoje é um risco maior que o perigo de pilotar. Pelas suas declarações no depoimento à FIA está claro que êle sucumbiu à política poderosa do meio.

Fica aqui uma dúvida que nunca será esclarecida. Quanto Ayrton Senna se curvou à essa mão poderosa que também bateu no seu ombro e quanta fragilidade isso teria causado a êle no final da sua carreira?

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